O prazer de respirar

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Acontece-me muitas vezes durante a prática de meditação sentir um tal prazer em respirar que o posso comparar a um dos maiores prazeres que tenho na vida.

Embora no início deste texto eu fale da minha experiência ligada à religião, relembro que o Mindfulness é oferecido no ocidente como uma prática secular, isto é sem ligação religiosa, podendo ser praticada por qualquer pessoa. Falo disso mais abaixo.

Creio que já contei no blog, noutro artigo, que desde pequena procurei estar “ligada”, embora por palavras isto seja muito difícil de explicar.

Não sei desde que idade me isolava para poder contemplar e estar apenas comigo e com a ligação íntima a um plano que transcendia o meu pequeno corpo. Lembro-me de adormecer consciente dessa ligação e de acordar e a primeira coisa a vir-me ao coração era a certeza dessa ligação, era ainda muito pequenina.

De alguma maneira entendia que havia uma extensão de mim não visível, talvez a algo a que alguns chamam Deus, Energia, Universo, Eu Superior, Alma, … não sei. Desde muito cedo tinha necessidade de me retirar algumas vezes da confusão e sofria quando havia muito barulho ou discussões. Talvez na altura me chamassem introvertida, mas actualmente reconheço que o que eu era (e sou) se chama de altamente sensível. Talvez por isso, aprecio tanto o silêncio e os momentos de maior intimidade com os outros, em encontros e reuniões em que as pessoas se escutam.

Isto não me impediu de viver uma vida normalíssima enquanto criança, jovem e adulta. Brinquei muito, fui Guia (para quem conhece os escuteiros é um Movimento semelhante); saía com os meus amigos; ia ao cinema… fazia tudo o que uma jovem faz.

Quem convive comigo diariamente, sabe que sou divertida, canto, danço, faço macacadas,…. Uma amiga, com quem partilhei casa em Coimbra, dizia-me que quem me quer conhecer, e referia-se à tal faceta mais maluca, tem de viver comigo. O meu marido diz-me o mesmo.

Eu aprendi a acrescentar algumas coisas à minha vida para poder manter a tal “ligação”.

Nos anos de Universidade (eu estudei na Universidade de Coimbra), a primeira coisa que fazia diariamente era ir a uma Capela que as Irmãs da Fraternidade Verbum Dei tinham na sua casa e que ficava a cerca de meia hora a pé de minha casa. Antes de ir para a Universidade meditava durante cerca de uma hora nessa Capela.

Lembro-me que muitas vezes chegava às aulas com um sorriso de tal forma grande que havia quem me perguntasse porque estava tão animada logo de manhã. Na verdade eu vinha radiante com a meditação matinal. E não há palavra que melhor descreva o que estava a sentir: radiante. Levei sempre uma vida de estudante normal, embora mantivesse uma prática de meditação muito intensa.

Durante os anos de Universidade fiz todos os anos um retiro de silêncio de uma semana com os Jesuítas ou com as Irmãs da Fraternidade Verbum Dei, e fazia retiros de silêncio de 3 dias com alguma frequência ao longo do ano.

Isto não faz de mim melhor ou pior pessoas, apenas sublinha o prazer de respirar e contemplar que me acompanha desde que lembro de ser eu, mesmo nos anos em que tinha de estudar mais. Meditar colocava tudo o resto no lugar certo, sempre fui boa aluna, sempre tive tempo para tudo.

Covid-19 e dificuldades respiratórias

Quando se decretou a quarentena em Portugal, durante os primeiros dias em que ainda ouvi notícias, percebi que um dos sintomas da doença são as dificuldades respiratórias severas, a ponto de, nos casos graves, as pessoas terem de ficar ligadas a ventiladores.

Inconscientemente, durante a prática de mindfulness formal (a que chamamos meditação), comecei, ainda com mais intensidade, a apreciar os momentos de atenção à respiração. Esta cadência que me liga à vida desde que nasci e respirei pela primeira vez, e que me acompanhará até ao momento em que respirarei pela última vez.

Respirar é um milagre e significa que o meu corpo está vivo.

Isto que estou a escrever é tão básico, mas enche-me de espanto uma e outra vez, conforme aprofundo a prática simples de me sentar a observar a respiração.

A atenção à respiração, que é uma das práticas de base do mindfulness, passou a revestir-se de ainda mais gratidão durante a quarentena. Quase todos os dias ao finalizar a prática, quando toca o sininho que me indica que o tempo já terminou, mantenho-me mais uns momentos em gratidão profunda por cada respiração.

Pagar para respirar

Em muitos locais do mundo as pessoas que estão ligadas a ventiladores por causa de dificuldades respiratórias, estão a pagar ao Sistema de Saúde para poderem respirar.

Já pensaram nas vezes em que respiraram sem terem que pagar um único cêntimo? E que neste momento estão a respirar possivelmente sem esforço e sem estarem entubados?

Imagino o prazer que será para quem já se viu privado de oxigénio, voltar a respirar normalmente sem o auxílio de máquinas ou de botijas, sem se sentir a “afogar”, sem a sensação de que não há ar…

Como será a relação com a respiração, com este milagre que o nosso corpo opera sem a nossa intervenção direta, para pessoas que já se viram privadas de oxigénio?

Há ainda outras coisas na respiração que me tocam profundamente:

  • a certeza de que existe ar para a próxima respiração – e aqui trago à consciência a atitude da confiança;
  • o “deixar ir” que existe constantemente, porque se tentar apenas inspirar e a seguir não soltar o ar, quase que me sinto rebentar – e aqui treino o “não-apego”;
  • o saber que estou a morrer a cada respiração, porque sou consciente de que o tempo passa momento a momento, e a cada respiração estou a caminho do meu fim, ao mesmo tempo que me sinto tão viva – e aqui treino a aceitação.
  • a cadência ritmada que a respiração confere à minha vida, numa ligação íntima a todos os ritmos da Terra;
  • o não esforço que existe quando respiro de forma natural e a gratidão com que o meu coração se enche quando dou conta deste milagre;
  • a intimidade que o ato de respirar me permite ter comigo mesma, como sendo elo fundamental que liga o meu espírito ao meu corpo.

Prática formal de Mindfulness: Atenção à respiração

O Mindfulness é uma prática ligada ao Budismo. Mais do que isto o Mindfulness está no coração do Budismo.

No entanto, esta prática despiu-se de conotações religiosas para poder ser oferecida a todos os seres humanos independentemente de terem alguma crença religiosa ou não.

O mindfulness apresenta-se como uma técnica não religiosa, ou secular, que tem tantos benefícios para a saúde mental e física.

Achei importante deixar esta ressalva aqui, porque a minha experiência ligada a instituições religiosas cristãs existe porque fui educada numa família com esse credo. Foi aí que consegui manter a tal ligação de que falei no início, mas neste momento não estou ligada a nenhuma religião, apesar de acreditar que existe a tal ligação que transcende o meu pequeno corpo.

Oferta de orientação para uma prática centrada na respiração

Neste artigo ofereço uma prática centrada na respiração de cerca de 15 minutos. É um pouco mais longa, e poderá utilizá-la como prática formal, para fazer diariamente de manhã, para fazer no intervalo do almoço, para um momento em que consiga estar 15 minutos sem ser interrompido.

Esta prática pode ser feita de olhos fechados ou abertos, desde que os olhos não estejam focados, nem sejam uma fonte de distracção.

A orientação foi feita pensando que está a meditar sentado numa cadeira, mas poderá estar sentado no chão, ou deitado.

Se tiver alguma dúvida, pode perguntar-me.

Escreva o seu nome e email no formulário abaixo para receber a oferta de orientação para uma prática centrada na respiração: O Prazer de Respirar

Com Amor,

Dulce

Se preferir ouvir-me a ler

Se preferir ouvir-me a ler este artigo, poderá fazê-lo no Germinações da Mil Grãos.

No último artigo do blog, ofereci uma prática guiada de cerca de 4 minutos, a meditação dos 3 passos. Pode descarregar aqui:

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Dulce

Com formações e experiência nas áreas da Macrobiótica e no Mindfulness, desenvolvi o projeto Mil Grãos, onde o foco é oferecer-lhe informações, conhecimento, prática e experiências para uma vida mais Humana, Ecológica e Espiritual.

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